terça-feira, 24 de janeiro de 2012

E ainda por cima é bom jogador...



Não é de agora que me parece inadmissível que se deixe partir determinados jogadores que têm o espírito de um clube para contratar estrangeiros de valor duvidoso e que estão bem a borrifar-se para o que representa o clube em que estão. Mas isso devo ser eu que sou um romântico.

Romântico ou não, aqui deixo algo que foi publicado na revista "Dragões" em 2007 sobre a incrível história de ANDRÉ CASTRO (23 anos), jogador formado no FC Porto (chegou ao clube com aos onze anos) e que tem sido consecutivamente emprestado a outros clubes, actuando agora na primeira liga espanhola, no Sporting de Gijon. Onde, dizem, é muito apreciado. Aqui fica:

André CASTRO Pereira - Com fogo no sangue

Singular e particularmente fecunda, farta em detalhes característicos de uma fábula admirável, a história de Castro precede-o, desenhando um curioso ziguezaguear de quatro gerações habilitado a reescrever uma original carta de apresentação, cujos primeiros traços foram rabiscados há mais de sete décadas. Campeão júnior e debutante, André é o quarto Dragão de uma linhagem rara e notável.
O percurso caprichoso de uma árvore genealógica fascinante devolve-nos ao século passado, à década de 30. Lá, muito antes da II Grande Guerra, a pesquisa revela a figura de Francisco Castro, o bisavô materno que André não chegou a conhecer. Personagem divertido, particularmente popular em Santa Catarina, vestiu de Azul e Branco, depois de uma breve passagem pelo Salgueiros, e integrou a equipa do FC PORTO que conquistou o primeiro de todos os campeonatos, em 1932, liderada pelo húngaro Joseph Szabo.
Duas vezes internacional, sobre Castro, cromo difícil dos rebuçados «Azes do Foot-Ball», escreveu-se, na altura, que era um dos melhores no seu lugar, o de «ponta esquerda». Dele se dizia que só gostava de sardinha, apesar de o pai deter metade dos talhos da cidade do Porto, e de ser praticamente imbatível na posição de guarda-redes. Em 1933, no Ameal, interpretou um episódio insólito, a poucos minutos do início do jogo das meias-finais do Campeonato de Portugal. Lesionado, foi substituído por Szabo, o treinador. O FC PORTO venceu o Benfica por 8-0.
Anos mais tarde, Carlos, filho de Francisco, também seria do FC PORTO, sem, no entanto, chegar a equipar-se. Já no Estádio das Antas, o avô de André desempenhou as funções de supervisor fiscal. A dinastia Castro reencontraria os relvados na geração imediata. Miguel Ângelo, defesa-central, evoluiu em todos os escalões de formação dos Dragões e foi capitão dos juvenis. Respondia também pelo nome de Castro e distinguia-se pela sensatez e tranquilidade, mesmo nas situações mais delicadas. Conta o sobrinho que «era exemplar até na escola». Vítima de um cancro, morreu ainda antes de completar 20 anos.
Quando André, o mais jovem Dragão da família, chegou ao FC PORTO, já havia adoptado outro nome para constar das fichas de jogo. «No meu último ano de escolinhas no Gondomar, o treinador desafiou os muitos Andrés da equipa a escolherem uma alcunha ou apelido, para que pudesse distinguir-nos», conta o jovem médio, capitão da equipa campeã nacional de juniores e hoje estreante no plantel orientado por Jesualdo Ferreira. «Não pensei duas vezes, escolhi o nome Castro, em homenagem ao meu tio, que tinha morrido fazia pouco tempo».
Sócio Portista desde os quatro anos, Castro realizava, aos 11, o primeiro de uma ousada lista de sonhos. Por uma tremenda coincidência, chegava ao FC PORTO por intermédio de Álvaro Silva, o treinador que fizera do tio Miguel Ângelo capitão dos juvenis. «Foi um grande orgulho para os meus avós», recorda. E também para o meu pai, Rui Pereira, que com idade de júnior jogara nos seniores do Sport Rio Tinto, antes de uma rotura de ligamentos colocar ponto final numa carreira promissora. Ainda hoje, pai e avô seguem-no para todo o lado.
A concretização da ambição seguinte de André não tem muito mais de cinco meses. «O melhor que me podia ter acontecido foi sagrar-me campeão nacional de juniores». Ávido, mas paciente, traça agora outros objectivos, assumido querer «muito mais», mas nada que ultrapasse as fronteiras do Dragão. «A minha grande ilusão é poder ser uma referência no FC PORTO, como foram, por exemplo, o João Pinto e o Vítor Baía». Do estrangeiro e de prestígio internacional não quer ouvir falar. «Estou num grande clube europeu e mundial, que mais posso querer?». Francisco, o primeiro Dragão da linhagem, orgulhar-se-ia do bisneto.

In «Revista dos Dragões» Novembro de 2007