quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Um Sabor especial


No passado fim de semana lá me libertei das amarras do trabalho para passar três dias fora do Porto. E a escolha recaiu sobre o Vale do Sabor (na zona de Torre de Moncorvo e Mogadouro), um dos poucos rios selvagens do nosso país e que tem estado nas bocas do mundo devido à construção de uma barragem que vai alagar todo aquele vale.

As paisagens de que desfrutei neste fim de semana podem ter os dias contados. E é uma pena, porque se vai perder assim algo que já não se encontra em muitos locais em Portugal. Uma especificade que deveris ser preservada, ainda mais numa altura em que cada vez mais se pôe em causa modelos de desenvolvimento como aquele que justificam a dita (futura) barragem.

Mas de tantas imagens e memórias belíssimas que trouxe de Trás-os-Montes (uma das únicas áreas geográficas realmente "grandes" de Portugal, juntamente com o Alentejo, segundo Miguel Torga), algo se destaca e se impõe: o SILÊNCIO. Já não estava habituado a tanta tranquilidade. Faz tanta falta o silêncio... O "sound of silence", como alguém lhe chamou, é impagável.

Ver site SABOR LIVRE

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Do outro lado...






Já não ia ao cinema há algum tempo. E valeu bem a pena o regresso para ver este "Do outro lado", do realizador Fatih Akin. Um filme que retrata bem a "Nova Europa", de fronteiras cada vez mais fluídas, em que a Fortaleza já não faz qualquer sentido. Mas acima de tudo, uma grande história, com grandes personagens. Afinal, sempre o mais importante...

Info sobre o filme.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

PARA LÁ DA CORTINA DE FUMO...

Aqui fica um artigo que explica muita coisa. Pelo menos a mim explicou.


Subprime: a democratização do crédito?
PÚBLICO, José Vítor Malheiros - 2008/09/23

Os pobres que foram pagando a sua casa, pagaram-na mais cara que os ricos. E muitos perderam as prestações e a casaOsubprime não surgiu devido a um fervor democrático ou um desejo igualitarista por parte dos bancos e de outras instituições de crédito de estender também aos mais pobres os benefícios do crédito de que apenas os ricos e os remediados tinham beneficiado durante séculos.
O subprime surgiu porque um banqueiro um dia olhou para um gráfico da população nos Estados Unidos e constatou que havia umas dezenas de milhões de pessoas que os bancos não estavam a espremer - apesar de, esporadicamente, estas pessoas terem uns dólares a mais no bolso e de possuírem as mesmas aspirações e desejos dos outros seres humanos: uma casa para morar, por exemplo.
A questão era: por que razão extorquir apenas o dinheiro dos mais endinheirados? Porque não tentar sacar aqueles escassos dólares que se amontoavam nos bolsos dos mais pobres? Porque não ordenhar também os mais pobres (para usar uma expressão que os gestores apreciam, ainda que usualmente em inglês, to milk the costumers)? Afinal, aqueles dólares todos juntos representavam uma maquia apetecível.
Havia o pequeno problema de estes clientes poderem não conseguir pagar, mas isso não era nada que uma taxa de juro mais elevada não pudesse compensar. Bastava cobrar aos mais pobres um juro mais alto de forma a obrigá-los a pagar, digamos, cinquenta por cento acima do que se cobrava aos mais abastados (sim, acima). Para mais, havia sempre a possibilidade de o banco retomar possessão da casa, caso a hipoteca não fosse paga.
E assim se fez. É claro que este mercado (a eufemística expressão inglesa subprime significa "não é bife do lombo") teve os seus problemas, revelando a Mortgage Bankers Association dos EUA, no final de 2007, que se verificavam sete vezes mais execuções de hipotecas neste segmento que nos restantes, mas o essencial foi conseguido: os pobres estavam a ficar realmente mais pobres e os dólares que lhes saíam dos bolsos estavam a entrar nos bolsos dos bancos. O segmento subprime estava finalmente a ser explorado.
O problema foi que, como os bancos transaccionam estes empréstimos na bolsa e esta revelou um enorme apetite pela avalanche de hipotecas fresquinhas, os bancos entusiasmaram-se e começaram a emprestar a juros cada vez mais altos a quem não tinha emprego nem dinheiro, para comprar casas que não valiam nada. Como os bancos e os gestores eram avaliados (pelas bolsas e pelos seus accionistas) pelos resultados imediatos e não pelos efeitos de longo prazo, estas manobras foram uma bênção para o sector financeiro durante uns anos: havia mais "clientes", mais "valor bolsista". Mas o mercado imobiliário acabaria por cair e a catástrofe adiada aconteceu, dando origem à bola de neve que se conhece. A bomba acabou por estoirar no bolso do sistema financeiro.
Dizer que a crise do subprime foi provocada pela "democratização do crédito" é não só falso como desonesto. O poder estava e continua a estar apenas de um dos lados da equação. Os pobres que conseguiram ir pagando a sua casa pagaram-na mais cara que os ricos (mesmo os que nunca falharam uma prestação) e muitos deles perderam simplesmente as suas prestações para os bolsos de gestores e accionistas dos bancos - e perderam as casas. Houve um robindosbosquismo ao contrário e nenhum benefício para a economia. O facto de as coisas não terem resultado para os bancos - ainda que tenha resultado para muitos dos vilões - não faz deles as vítimas. E o facto de alguns indigentes terem tido crédito não torna o episódio "democrático" - é apenas um sinal da falta de escrúpulos das empresas envolvidas e da falta de controlos do sistema financeiro. Jornalista (jvm@publico.pt)