segunda-feira, 26 de maio de 2008

As lágrimas de John Terry


Pode parecer exagerado, mas quase uma semana depois continuo a pensar da mesma forma: o encontro entre Manchester United e Chelsea foi a melhor final da Taça / Liga dos Campeões que vi até hoje. E consigo recuar ate finais dos anos 70 nas minhas memórias destes jogos. O facto de se terem defrontado duas equipas inglesas ajudou com certeza a que este tenha sido um jogo fantástico, pleno de qualidade técnica e emoção. Porque apesar da continentalização do futebol britânico, a mentalidade das suas equipas continua quase intacta: antes de se pensar em não perder (como no continente europeu) pensa-se em ganhar. E joga-se para ganhar, mesmo quando o resultado está empatado no prolongamento. Por isso, a Liga inglesa é hoje a mais interessante de todo o planeta.

Um jogo de futebol nunca é apenas um jogo de futebol. Representa sempre muito mais. Por isso é tão importante para tantos milhões de pessoas em todo o Mundo. Um jogo de futebol - ainda para mais a este nível - conta sempre uma ou várias histórias, junta diversas narrativas que nos empurram a torcer por uma das equipas em presença, mesmo que não seja a nossa equipa, nem tão pouco uma equipa do nosso país. Ver (viver) um jogo de futebol sem torcer por um dos contendores é ficar de fora, ficar pela dismensão artística e/ ou plástica, vazia e fria. A principal narrativa que envolvia o Manchester United nesta final, pelo menos a partir do ponto de vista português centrava-se no menino prodígio Cristiano Ronaldo, o nosso melhor do mundo. Já do lado do Chelsea a história era ainda mais fascinante: o clube londrino, até hoje de média dimensão, apenas 1 vez campeão inglês antes da chegada de Mourinho e Abrahamovic, que conseguiram reunir um conjunto de jogadores extraordinário, mas até agora incapaz de conquistar a mais mítica competição de clubes a nível mundial: a Taça / Liga dos Campeões. O grupo parecera condenado com a partida do Special One Mourinho, mas um Average One, Grant, conseguira concretizar o sonho de chegar a uma final. A narrativa do Chelsea nesta final era acima de tudo feita de personagens muito fortes: Cech, Carvalho, Terry, Makekele, Lampard, Essien, Joe Cole, Drogba. Os “Soldados de Mourinho”, quase um “onze” completo, junto há quatro anos, bi-campeões ingleses, muitos outros títulos conquistados, mas sempre arredados do grande troféu europeu. E com a consciência geral de que esta seria provavelmente a última hipóteses de esta equipa ser campeã europeia. Por isso, quando, mais de 120 minutos passados sobre o início de um jogo electrizante, bem jogado, a um ritmo quase asfixiante, John Terry avançou, qual general confiante, para marcar o penalti decisivo, apeteceu-me tapar os olhos e não arriscar uma grande desilusão. Mas não o fiz e tive que assistir a um dos momentos mais dramáticos e tristes da minha já longa carreira de espectador de futebol: Terry, um dos últimos símbolos do amor à camisola versão futebol globalizado, escorrega e deita pela janela fora o título de campeão da Europa. Todos, menos ele! A crueldade pode não ter limite.

Desliguei a televisão mal Van Der Sar defendeu o penalti de Anelka. Nos minutos seguintes, revi mentalmente os remates ao poste e à barra de Drogba e de Lampard que podiam ter tornado tudo tão diferente. Mas principalmente, revi, vezes sem conta, a escorregadela de Terry no momento da verdade. Pus-me no seu lugar. E tive a certeza de que acabara de testemunhar o nascimento de um mito. Porque as lágrimas de Terry serão sempre muito mais “belas” para mim do que as de Cristiano. Lampard chorava por um clube. Cristiano apenas por si próprio.

João Nuno Coelho

2 comentários:

Unknown disse...

Paixão é dos sentimentos mais vibrantes e arrebatadores e absolutamente individual. Cada um sabe a dimensão do que o leva ao limiar do irracional. Não é avaliável de fora, nem é susceptível de hierarquia. "A minha paixão é maior do que a tua" não faz sentido, só por não se torcer por uma equipa, ou só por uma equipa.

Dalaila disse...

como concordo contigo, essas lágrimas têm alma têm coração e têm amor, as do ronaldinho têm muitos eurozitos à mistura